"É necessário que ele cresça, e que eu cresça também" - Uma conversa com João Batista

by Durval Barbosa

“Oi, João, a coisa por aqui tá feia.   Eu sei que você quis dizer que ‘é necessário que Ele cresça e que eu diminua’ (Jo 3.30), mas não é assim que é praticado, hoje.  Muitos até querem que Jesus cresça, mas eles não querem diminuir – isso não fica bem nos dias hodiernos.  Diminuir, hoje em dia, significa se humilhar (parece que nos seu tempo também era assim), mas significa, também ficar para trás, não aparecer, ficar em segundo ou último plano, e isto não é bom para a ‘imagem’ de muitos cristãos.  Vivemos os dias da alta tecnologia, João – no seu tempo não tinha isso.  É importante aparecer ‘na frente’, ficar ‘bem na fita’, ser o primeiro, ser alguém com boas roupas.  Aliás, João, aquela coisa de ficar vestindo pele de camelo... desculpa, mas hoje isso não pega bem, não.  Você era simples demais e, talvez por isso, acabou com a cabeça decepada.  Se vivesse hoje, terias de vestir-se bem, com terno e gravata caros - não sei se você entende, coisa de ‘marca’, não de camelo - e andar de carro importado.  Pensando bem, a turma de hoje quer voar em aviões próprios – sabe aqueles pássaros de ferro que voam em cima da gente?  Pois é, a turma faz uma campanha, implora as ofertas nos programas de televisão (é só dizer que é para ajudar os mais pobres) e depois o pássaro de ferro aparece.  Claro, a obra de Deus tem pressa e não podemos perder tempo nos aviões comerciais.  Sem se esquecer que nada de ‘gafanhoto e mel silvestre’.  Temos restaurantes bons e caros, hoje.  Não fica bem pra um pastor comer em qualquer lanchonetezinha – nada de comida à quilo ou lanchinhos.  João, hoje em dia, gente grande vai nos restaurantes caros.  Afinal, temos que nos ‘apresentar’ bem.

            “Tem outra coisa, João.   A verdade é muito relativa. Sei que você não sabe bem o que é isto, mas não podemos falar tudo que está na Bíblia, se não... bem, você sabe que dependemos dos governantes para nos... digamos, ‘abençoar’.  Então, temos que fechar os olhos para algumas coisas.  Aquilo que você fez foi até bonito e corajoso – falar contra o adultério de Herodes foi muito ‘forte’.  Mas, pense bem comigo, João.  Os irmãos precisam de terreno, aparelhos de som, teclado, bateria (coisas que não tinham no seu tempo), cimento e lajotas.  Como podemos conseguir isso, se não for através dos políticos?  É claro que Deus é grande, João, mas Ele usa esses homens para nos ‘abençoar’.  Então, que eles levem a vida que quiserem levar, desde que nos ‘abençoe’, tudo bem.   Não vamos falar contra o pecado deles, vamos apenas orar para o Senhor ‘prosperá-los’ mais e mais. 

            “Tá vendo, João, quanta diferença, hein!?  Se você vivesse, hoje, faria a mesma coisa.  Desculpa, não entendi.  Você não seria igual?  Mas, como assim?   Hummm, você perderia a cabeça, outra vez?  Poxa, pensei que os tempos haviam mudado... ou que você teria mudado.   É, parece que os tempos mudaram, mesmo, mas o teu Deus (quer dizer, o nosso) continua o mesmo.  Tá bom, João.   Foi um prazer te rever.  Fica na paz, ou melhor, fica com Deus e não esquece de orar pela gente – precisamos muito.”