Hoje, 19 de novembro, faz 5 anos da morte do Edgard Brito, missionário brasileiro morto em Timor Leste. Até hoje, nada foi feito para punir o assassino, ou se foi feito alguma investigação – provavelmente, sim -, não resultou em nada, porque ninguém foi punido e a justiça parece não ter sido feita. Mas, Deus, o reto juiz, sabe o que fazer com quem praticou tamanha atrocidade e esperamos nEle para fazer a justiça tão precisa.
Independentemente de a punição acontecer ou não, neste dia quero lembrar do amigo que tanto impacto nos causou – a mim e à Cátia. Tivemos bons momentos quando ainda morávamos na Estrada de Bebonuk. Edgard, que gostava muito de coca-cola, sempre nos visitava e havia muita intimidade e confiança entre nós. Ele estava do meu lado, sentado em um banco no Hospital, quando a Cátia teve a confirmação que estava grávida da Catarina e ele foi o primeiro a nos cumprimentar.
Sempre compartilhávamos a visão do trabalho com os timorenses e tivemos boas conversas sobre teologia, missões, Igreja e igrejas e, como não poderia deixar de ser, sobre namorada e casamento. Apaixonado por alguém, Edgard se foi sem realizar o sonho do casamento, mas muitas outras coisas ele realizou em tão pouco tempo no Timor – menos de dois anos.
Com a crise de 2006, Edgard estava sempre na “frente de batalha”, fotografando as casas e carros queimados e, com muita coragem, gostava de ver as coisas “in loco”. Ainda no dia 2 de novembro desse mesmo ano, estivemos juntos, eu e ele, no Cemitério de Sta Cruz, para visitar e conhecer mais o povo timorense no “dia de finados”. Quando nos encontramos lá, havia muitos policiais em volta do cemitério e foi aí que o Edgard falou-me que haviam marcado uma briga naquela área para aquele dia – ele não havia falado antes, segundo ele, para não me atemorizar. Naquele tempo, a tensão estava em alta e o stress era constante, mas o Edgard “brincava” com tudo isso e não deixava que o medo tomasse conta do coração.
Conhecido por muitos como o “Caio Fábio do Timor”, Edgard estava sempre pregando sobre a Graça de Deus, e tendo sempre uma palavra de esperança, cria que tudo iria melhorar. Conversar com ele era se edificar, se esclarecer, falar e ouvir, porque o Edgard tinha muito a ensinar.
Trabalhava muito, apesar das muitas dificuldades, principalmente na área de sustento financeiro. Sua igreja e alguns amigos do Brasil gastaram mais com ele depois de morto do que quando em vida. Também participamos dessa sua luta e víamos a dificuldade em levar os Projetos adiante com um sustento tão minguado. Alguns dias antes de sua morte, Edgard conseguiu ganhar uma moto de uma igreja dos EUA, mas não a usou muito porque logo nos deixou.
Não quero lembrar muito da imagem que vi naquele domingo, 19 de novembro de 2006. A covardia e a insanidade de alguém louco e tomado pelo ódio não merecem meus pensamentos, nem a ignorância e a fragilidade indesculpáveis daqueles que não se importaram muito com sua morte. Mas, vale à pena pensar nas palavras de alguns timorenses que falavam: “coitadinho do brasileiro, coitadinho do Edgard”. Vale à pena pensar que tantos jovens choraram sua morte e sua ausência. Vale à pena pensar que ele está fazendo falta, porque deixou um legado para tantas pessoas, principalmente os jovens do Orfanato que ele ajudou a cuidar.
Edgard se foi deixando muitos amigos e uma imensa saudade de alguém que amava demais a Jesus e queria fazê-lo conhecido para cada timorense. Trabalhando com pessoas de outras nacionalidades (por questões óbvias, não revelo como), Edgard pregou e ensinou até o último momento de sua vida e nos deixou uma pergunta: Por quê? Mas, conhecendo o Deus de toda Graça e de toda a compaixão, mesmo não entendendo, cremos que os propósitos do Senhor para ele eram muito mais elevados do que podemos imaginar. Confesso que não entendo o porquê, mas creio que o Deus de Edgard, o nosso Deus, tinha algo de muito especial para ele – como tem algo muito especial para todos nós.
Saudade, Edgard!!! Até um dia...